O Amor Esquecível
Eu brincando de Alain Resnais.
ESCRITOS
Marcus Figueiroa
1 min read
E então começou a tornar-se terror, o estupor de que é esquecível o amor. O terror de que se pode esquecer tanto amor…
E como a sombra flui lentamente, como escorrendo viscosa, preencheu-me. Quase enlouqueci, ou enlouqueci. Depois me quedei, inerte.
O meu corpo foi moldado no teu. Teu corpo molde do meu, e se pode substituir. O terror...
...o meu corpo! Tornei inacessível a outros. Tornei indignos outros corpos de meu corpo.
Esquece-se. O esquecimento começa quando se torna lembrança.
Sim se esquece o amor. A vida continua e a morte. A tua morte continua. Até que se esquece de lembrar. E as lembranças nos espreitarão para sempre, saltando das coisas. Mas serão lembranças de outras coisas, e tudo que é lembrança se esquece.
E tua lembrança se torna um lugar, uma canção... E estas coisas se tornam outras coisas…
De nossos corpos apararemos as arestas que serão raspas sopradas pelo tempo. Ajustaremos nossos corpos a outros, quiçá aparados como os nossos.
Outras formas. E quantas formas poderemos dar ao amor? Depois de nos termos dado tanto amor? Tantas quantas forem as lembranças de que se pode esquecer o amor. E ser filme, cheiro, sabor. Lembranças entre outras lembranças.