Desenhar a Subalternidade: Memória, Narrativa e Resistência
Escrevi este ensaio como conclusão do curso Pós-colonialismo: A Questão Subalterna, pensando sobre o que o percurso significou para mim, não apenas em termos de conteúdo, mas de aprendizagem larga, respeitosa e madura que devo à todos os participantes. Defronte o desafio, relembrei dois trabalhos anteriores, escritos para atender a outras disciplinas (que publiquei neste blog em: Descolonizar O Olhar... e Memória, História, Documentos, Narrativas), juntei outras lembranças da vida e comecei a perceber certas continuidades nos interesses da minha curta formação. Escrevi para decantar o que o curso dispersou em mim.
ESCRITOS
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Decantar e desenhar para mim são mais do que rimas. Ao olhar o tema da subalternidade retorno à metáfora do desenho e ao fazer artístico, como fiz anteriormente nos trabalhos que mencionei, com temas que para mim se afinam. Desenhar é sempre um ato de mediação, de escolha – o que destacar, o que omitir, quais linhas traçar e quais deixar por conta da imaginação do interlocutor, do diálogo e dos desdobramentos e repercussões da trama de uma tela da qual participa o desenho.
A aproximação de um ambiente ou de um objeto através do duplo olhar, da ciência e da arte, gera uma tensão imediata que é o silêncio dos objetos. O cientista quer construir uma História que vem dos objetos e o artista por contar uma história através dos objetos, ambos com a mesma agonia: o objeto não fala – O uso que faço do termo objeto aqui é o mais amplo possível, nas acepções práticas e acadêmicas dele. Outra agonia surge para ambos, a do historiador ante a impossibilidade da reconstituição de um evento ou de uma personalidade, e a do artista diante da infinidade de possibilidades na construção dos ambientes e personagens.
Narrar a história dos subalternizados exige nesse sentido, como no desenho, treinar o olhar, desaprender o que a perspectiva única da modernidade ocidental nos ensinou, e resistir à tentação de preencher o vazio com respostas que vêm do nosso repertório vocabular ou vozes que não são deles. Idealmente, um olhar que vai além da descrição e da interpretação, uma soma maior que as partes. O meu partido é o pensamento que o encontro de convergências e afinidades entre dois olhares interessantes e interessados num mesmo objeto enriquecem o trabalho, o instrumental e a erudição dos dois lados, é como justifico a minha proposta neste exercício de escrita.
Olhar, lugar, desconforto
Da primeira aula do curso me lembro de uma palavra, que ficou gravada no meu pensamento sobre a motivação do grupo dos Estudos Subalternos: desconforto. Um sentimento certamente comum aos integrantes de um grupo formado por historiadores e intelectuais indianos, de uma casta privilegiada e com projetos distintos mas um pensamento estratégico em comum: repensar o saber produzido sob a perspectiva eurocêntrica, partindo da experiência das culturas colonizadas e de intelectuais silenciados pelo aparato epistemico dominante, e torná-lo relevante no sistema hegemônico de produção do conhecimento.
O grupo inicial dos Estudos Subalternos surgiu no final dos anos 1970 liderado por Ranajit Guha, reuniu acadêmicos como Dipesh Chakrabarty, Partha Chatterjee e, ao longo de sua atividade, vários intelectuais ligados à diáspora indiana como Gayatri Spivak. A diversidade de formações e interesses dentro do grupo permitiu que além de um movimento historiográfico, gerassem uma intervenção teórica que dialogava com o marxismo, o pós-estruturalismo e o feminismo para explorar questões de poder, resistência e memória. Chancelado por Edward Said, o projeto influenciou fortemente os estudos pós-coloniais, mas manteve-se conectado ao contexto específico da história do Sul da Ásia, de onde emergiu.
Guha, o mais experiente, ajudou a criar um novo espaço para explorar essas histórias esquecidas e resistências apagadas. Em Dominance without Hegemony, Guha redefine o poder colonial, mostrando que, embora sustentado pela coerção, ele também buscava uma hegemonia cultural que nunca foi plenamente alcançada. É como se o colonizador tentasse impor sua paleta a uma paisagem, mas as cores locais, teimosas, continuassem escapando da moldura.
Nesse sentido, a defesa da "história de vista de baixo" nos Estudos Subalternos é como o gesto de mudar o foco de uma câmera, deslocando a atenção das figuras de autoridade para as mãos que construíram o tecido da resistência. A história, como a arte, é uma prática política, onde os contornos do poder e da resistência se entrelaçam em um constante jogo de sombras e luzes, como um desenho incompleto, onde os contornos da dominação colonial parecem claros, mas as linhas que representam a resistência e as vozes subalternas permanecem borradas ou apagadas. Essas histórias, como linhas antes ignoradas, ganham forma e textura nas análises do grupo.
A habilidade de desenhar uma nova imagem da nação pós-colonial, é a principal contribuição de Partha Chatterjee para os Estudos Subalternos. O olhar para a construção das identidades nacionais, por um lado dominado pela lógica das instituições modernas e por outro que preserva o espaço íntimo da cultura e das tradições locais, o espaço negativo da história desenhada pelo poder muitas vezes invisível ao olhar hegemônico. No seu trabalho a subalternidade não é uma tela em branco, é um espaço repleto de significados e possibilidades, e ele a transforma em um ato de resistência, onde os silenciados, como artistas de sua própria história, lutam por reconhecimento e autonomia.
Os Estudos Subalternos buscaram reescrever a história a partir da margem, mas, em geral, acabaram falando sobre os subalternos, mediando suas histórias em vez de abrir espaço para que fossem protagonistas. Absorvidos pela academia ocidental, tornaram-se mais um discurso crítico do que uma prática transformadora. Eles não venceram o desafio de representar o sujeito subalterno, permanecem marcados pela tensão irresoluta entre a intenção de libertação e a prática de representação: o desconforto de impor os contornos da vida de pessoas, na impossibilidade de representá-las, de uma forma legível e aceitável para o saber dominante.
Por outro lado, me lembro de descobrir, nas aulas de História da América Contemporânea, Silvia Rivera Cusicanqui e de como ela nos oferece a metáfora do "ch’ixi". Um conceito aimará que rejeita a síntese ou a homogeneidade; algo que é, ao mesmo tempo, branco e preto, sem deixar de ser nenhum dos dois e que a episteme ocidental resume a uma escala de cinzas pois, da sua perspectiva binária e dicotômica, por serem intrinsecamente opostos, são incapazes de coexistir, cada qual conforme sua essência constituinte.
Talvez a subalternidade, vista sob esse prisma, seja também isso: um estado de desregistro, desmemória. Uma coexistência incômoda entre “ser ou não-ser”, entre presença e exclusão. O desconforto de se vê desenhado por um contorno imposto pelo colonialismo; de aceitar se expressar por linhas traçadas por alguém alheio; ou do risco de apagar os contornos e se perder na não existência, de rasgar o papel.
O ponto de vista do silêncio
Em Pode o Subalterno Falar? Gayatri Spivak ampliou o debate no seio do grupo ao articular as limitações da representação e da voz subalterna, especialmente em contextos que sobrepõem camadas de subalternidades como gênero e colonialidade. Ao escrever sobre a impossibilidade da mulher subalterna falar em seu próprio nome, ela denuncia que a subalternidade não é apenas a ausência de voz, mas a construção de um silêncio.
Um silêncio moldado por estruturas de poder que negam aos sujeitos a possibilidade de serem ouvidos fora das categorias impostas pela colonialidade, a dificuldade de agir e falar a partir de uma posição de ilegibilidade. Spivak enfatiza a importância dos sistemas de signos na análise da mudança histórica, argumentando que as transformações sociais se refletem e se materializam nas formas de representação e comunicação. Soa como um alerta: o subalterno não é apenas aquele que não fala, mas aquele que é estruturalmente silenciado.
É um silêncio que ressoa em muitas camadas da nossa história, ecoando nos arquivos apagados, nas histórias narradas de cima para baixo, nos olhares cegos de quem olha mas não enxerga o outro. Olhos que veem o outro com espanto moral; que o olham com interesse científico, como uma “natureza morta ou paisagem, objeto ou tema; mas, que refletem sempre no outro o que pensam, o que julgam e o que sabem; nunca o enxergam na sua inteireza humana, com a empatia de um ser igual. Spivak reflete sobre o perigo de se falar por alguém, em vez de criar espaços para que essas vozes sejam ouvidas em seus próprios termos, nas suas próprias linguagens. O risco que o artista corre de fazer de todos os retratos autorretratos, sem ter consciência disso.
O Tempo
Milton Hatoum, numa entrevista que vi um tempo atrás, fez uma metáfora bonita sobre o tempo da literatura ser o tempo da espera. Eu digo que o tempo da espera é o tempo do olhar que desenha. Não o tempo que leva o olho para percorrer um objeto, mas o que leva o desenhista para se conectar com o objeto através do olhar, o exercício de desenhar como exercício de sair do lugar. Não se colocar no lugar do objeto, mas deixá-lo “falar” e registrar o que o olho vê e não o que sabe. E, depois das pesquisas dos cubistas, pelo máximo de pontos de vista possível.
Falo de um tempo que duela com o tempo de classificar, dar nomes, de não “perder” tempo olhando o que já tem um nome disponível em manuais, dicionários e enciclopédias, que todo mundo conhece. O desenhista sabe que para desenhar têm que entrar num estado mental que impõe o seu próprio tempo e desconhece o tempo progressivo e linear da mentalidade ocidental. Tem que mudar a maneira de olhar e enxergar de um jeito “diferente”, vazio de conhecimentos subjetivos construídos pelo sistema educacional da modernidade.
Falo de um olhar que é novo a cada vez que olha por que o que ele produz é um instantâneo, como uma polaroid que acrescentado ao mural da História, é um momento, que precisa sempre ser (re)contextualizado e (re)atualizado. Um olhar livre de espelhos e perspectivas formais, desobstruído de expectativas de “descobertas” ou “conquistas” e uma conexão que precisa encontrar seu tempo na contracorrente do nosso tempo. Para mim isso é fundamental ao pensar em uma metodologia de pesquisa historiográfica, Apesar de especialmente difícil nos moldes acadêmicos tradicionais.
Chatterjee nos ajuda a desenhar o tempo de forma não linear. Ao rejeitar a cronologia universal do nacionalismo europeu, ele sugere que o tempo das nações pós-coloniais é múltiplo, uma pintura de sobreposições, camadas e velaturas que resistem à simplificação. Sua contribuição nos desafiou a olhar além das linhas traçadas pelo colonialismo e pelo universalismo, para enxergar uma história que, como um desenho feito à mão livre, mantém a autenticidade, a singularidade e o tempo de sua própria criação.
Memória, temporalidade e resistência
Em Provincializing Europe, Dipesh Chakrabarty nos fez um convite provocador: descentrar o tempo histórico europeu, além de desmantelar sua cronologia linear. Para Chakrabarty, a história ocidental nos aprisionou numa ideia de progresso, enquanto as histórias subalternas operam em múltiplas temporalidades. Já Said sustenta que o Orientalismo não é apenas um corpo de ideias, mas sim uma força material que impacta a realidade. É aqui que a memória encontra sua força subversiva.
O artista pernambucano Gilvan Barreto, em suas fotocolagens, parece responder a esse convite. Quando ele mistura documentos do DOPS com fotografias familiares, quando transforma traumas em arte, ele não apenas questiona as narrativas oficiais, mas também desafia a temporalidade homogênea que essas narrativas impõem. Barreto, ao recriar sua "República Socialista do Afeto", reescreveu o passado para projetar futuros possíveis – um ato de resistência e (re)imaginação.
Paul Ricoeur disse, no âmbito de uma conferência intitulada Memory, history, oblivion, que a memória é um "pequeno milagre". E é mesmo. Ela sobrevive contra todas as probabilidades, mesmo quando tudo conspira para apagá-la. Primo Levi provou que até as histórias mais absurdas – aquelas que deveriam ser inenarráveis, como o Holocausto – encontram formas de serem contadas. Barreto faz da memória um espaço de reinvenção, um lugar onde a resistência não é apenas possível, mas necessária.
A ética de narrar o outro
Qual é o papel do intelectual em um mundo marcado por relações de poder desiguais e representações distorcidas? Said revelou que o Orientalismo se disfarça de saber objetivo, quando na verdade é uma construção ideológica a serviço do imperialismo. Boaventura de Sousa Santos nos adverte que podemos ser objetivos, mas não neutros. Narrar o subalterno, como percebo conhecendo Spivak, é sempre um ato ético e político. Não há neutralidade possível quando se trata de contar as histórias daqueles que foram apagados ou não podem falar, quando trabalhamos, nós também, por reconhecimento, dignidade e interesses, no ambiente acadêmico.
Uma narrativa se faz de escolhas, assim como um desenho. Quando desenhamos, decidimos o peso de cada linha, a densidade de cada parte, a nossa posição em relação ao objeto, mas sobretudo, o que permanece dentro do contorno e o que é deixado de fora. Quando narramos, decidimos quem terá espaço para falar e quem será silenciado, mesmo que involuntariamente. Essa é uma das armadilhas apontadas por Spivak: mesmo os esforços para dar voz aos subalternos podem reforçar sua exclusão, se não forem acompanhados de uma consciência crítica das estruturas que produzem a subalternidade.
Talvez seja por isso que o conceito de "arquivo subalterno" me parece tão poderoso para o estudo da subalternidade. Ele não tenta preencher o silêncio do subalterno, mas, como Chakrabarty faz em Conditions for Knowledge of Working-Class Conditions, reconhece esse silêncio como parte de sua história. Ao criar novos "documentos" Barreto não está apenas narrando o que foi silenciado, mas também expondo as condições que criaram o silenciamento. Suas obras operam num espaço ambíguo, onde o arquivo não é apenas uma fonte de verdade, mas também um campo de disputa.
Considerações finais: desenhar o invisível
Como concluir é uma pretensão que meu tatear não permite, por final, divido uma questão e algumas considerações: Se toda representação é, em alguma medida, uma forma de poder, como podemos reconhecer e interagir com outras culturas de maneira ética e respeitosa?
Falar sobre subalternidade é, inevitavelmente, falar sobre limites. Limites do olhar, da linguagem, da memória. Mas também é falar sobre possibilidades. Chakrabarty nos lembra que desprovincializar a Europa não é rejeitar suas categorias, mas colocá-las em diálogo com outras formas de ser e saber. Cusicanqui nos convida a imaginar uma epistemologia que não busque sínteses, mas coexistências. Guha nos coloca a importância estratégica de colocar vozes conflitantes na produção de saber e Spivak nos desafia a encarar as condições que tornam a fala subalterna impossível.
Talvez, como Barreto, possamos encontrar na arte e na narrativa formas de resistir a esses limites. Talvez possamos aprender a desenhar o invisível, a dar contornos ao que foi excluído, sem apagar sua complexidade ou contradição. Porque, no fim, descolonizar a memória e narrar o subalterno não é apenas um exercício intelectual. É, acima de tudo, um ato de coragem.


Glossário
Agência,
é a capacidade de ação, de influenciar e de transformar o mundo à sua volta, mesmo diante de estruturas que limitam ou condicionam essa ação. Não é apenas a habilidade de exercer poder, mas também de resistir, de criar e de dar significado às próprias escolhas e experiências.
Nos Estudos Subalternos, é a força que desafia a narrativa de passividade muitas vezes atribuída aos subalternos. Ranajit Guha destacou que, mesmo sob a dominação colonial, os camponeses indianos demonstravam agência em suas lutas e práticas cotidianas, resistindo de formas que escapavam ao controle hegemônico. Gayatri Spivak nos lembra, porém, que a agência dos subalternos é frequentemente invisibilizada ou traduzida em termos que reforçam a lógica dominante, exigindo cuidado na forma como ela é representada.
É o traço invisível que revela a capacidade humana de criar sentido e mudança, mesmo nas margens. Pode aparecer nas margens ou nas brechas, nas ações explícitas ou nos gestos silenciosos que reconfiguram as relações de poder e abrem possibilidades para novas histórias.
Colonialismo,
é a imposição de um poder externo sobre um território e seus povos, manifestando-se não apenas como dominação política e exploração econômica, mas também como controle cultural, social e epistemológico. Opera como um processo de desfiguração e silenciamento, apagando vozes, tradições e formas de conhecimento locais para impor uma lógica hegemônica que organiza o mundo a partir da perspectiva do colonizador.
Nas palavras de Ranajit Guha, é mais do que coerção; é uma tentativa incompleta de hegemonia, onde a resistência subalterna desafia continuamente o controle. Para Dipesh Chakrabarty, é uma máquina que organiza o tempo e o progresso de acordo com as narrativas eurocêntricas, relegando as experiências colonizadas a um "atraso" histórico. Silvia Rivera Cusicanqui mostra que o colonialismo persiste além da política, como uma colonialidade do saber e do ser, infiltrando-se nas estruturas que moldam identidades e subjetividades.
Não é apenas um fenômeno histórico encerrado na expansão territorial de impérios, mas um sistema de relações que perpetua desigualdades e exclusões, perpetuando o "desenho" de um mundo onde as margens são forçadas a caber nas molduras do centro.
Desconforto,
é o sentimento que move os descontentes e os que sendo parte de uma situação privilegiada se incomodam com ela. É a sensação que emerge quando algo não se encaixa, quando o que somos confronta o que nos é imposto ou esperado. É, ao mesmo tempo, um incômodo e um chamado – uma interrupção no fluxo habitual que exige atenção, reflexão e, às vezes, ação.
Nos Estudos Subalternos, aparece como uma tensão central. O do intelectual que tenta falar sobre o subalterno, sabendo que qualquer tentativa de representação está inevitavelmente contaminada pelas estruturas de poder que quer criticar. Gayatri Spivak explora isso ao perguntar: Pode o subalterno falar? – uma questão que carrega o desconforto de representar vozes que foram historicamente silenciadas, sabendo que tal esforço pode reforçar o mesmo silêncio que tenta romper.
É a resistência do subalterno às molduras que não o representam, a recusa de caber no desenho homogêneo de nações, histórias ou identidades construídas pelo colonialismo. É o incômodo que sentimos ao perceber a incompletude das narrativas hegemônicas, os silêncios que elas escondem, as sombras que elas projetam.
Mas é também criativo. Ele nos força a olhar para as lacunas, a escutar os silêncios, a repensar os limites. É o motor da descolonização, da crítica e da reinvenção – o ponto de partida para imaginar outras histórias e outros futuros.
Documento,
no contexto da História, é qualquer vestígio material do passado que serve como evidência para a reconstrução de eventos, experiências e relações humanas. Pode ser textual, como cartas, diários e registros oficiais; visual, como fotografias e mapas; ou material, como artefatos, edificações e objetos cotidianos. É, ao mesmo tempo, um fragmento de memória e um objeto de interpretação.
Como nos lembra Chakrabarty, o documento não é neutro; ele é escolhido, preservado e lido a partir de interesses específicos. Sua materialidade carrega não só a marca do tempo em que foi produzido, mas também das formas como foi usado ou silenciado. Paul Ricoeur sugere que o documento é uma testemunha parcial, que exige um trabalho crítico para distinguir entre o que ele mostra e o que esconde.
Em História, o documento é tanto ponto de partida quanto desafio. Ele é um traço que liga o passado ao presente, mas nunca de maneira direta ou transparente. Como um desenho incompleto, ele oferece contornos que o historiador precisa preencher, interpretar e, às vezes, questionar, criando narrativas que sempre estarão abertas à revisão.
Episteme,
é o arcabouço de saberes, conceitos e pressupostos que define o que é considerado conhecimento legítimo em uma determinada época ou contexto. Estabelece as regras do olhar e do dizer, moldando como enxergamos o mundo, como compreendemos a verdade e como organizamos o pensamento.
Para Michel Foucault, é o sistema invisível que estrutura as práticas discursivas de uma era, delineando o que pode ser pensado e o que permanece fora do campo de visibilidade. Autores como Walter Mignolo e Silvia Rivera Cusicanqui nos mostram que a episteme ocidental colonizou outras formas de saber, silenciando epistemologias locais e relegando-as ao espaço do não-conhecimento.
É, portanto, um traço que organiza o campo do saber, mas também exclui e hierarquiza. Descolonizá-la é um exercício de resistência e criação, onde outros modos de conhecer, sentir e narrar emergem, ampliando o que pode ser visto, dito e reconhecido como verdade. É o esforço de redesenhar as fronteiras do conhecimento para incluir aquilo que antes era apagado ou marginalizado.
Estudos Subalternos,
é uma revista e um grupo de intelectuais que se dedicam a reescrever a história do Sul da Ásia a partir da perspectiva dos grupos marginalizados, que se deparam com o desafio de representar o sujeito subalterno. Apesar de buscarem dar voz aos silenciados, reconhecem que a própria disciplina da história é moldada por estruturas de poder que podem obscurecer a experiência do subalterno.
Ética,
é o que orienta nossas escolhas diante do outro, guiando como agimos, julgamos e nos relacionamos no mundo. Não apenas um conjunto de regras ou normas, mas um compromisso com o cuidado, o respeito e a responsabilidade. A reflexão sobre o que é justo e sobre como nossas ações moldam tanto as vidas individuais quanto os coletivos que habitamos.
Nos Estudos Subalternos, é a postura diante do subalterno: uma tentativa de ouvir, reconhecer e legitimar sua voz sem reduzi-la ao olhar hegemônico. Gayatri Spivak nos adverte que representar o outro exige cuidado para não reproduzir as estruturas de poder que queremos contestar. Para Boaventura de Sousa Santos, ética é reconhecer a diversidade de saberes e modos de vida, criando espaço para a coexistência em vez da dominação.
É um esforço constante de desenhar relações mais justas e horizontais, onde o traço não apaga o outro, mas destaca sua singularidade. É o fio que une responsabilidade e transformação, questionando como podemos agir de forma a construir um mundo mais inclusivo, sem silenciar ou excluir aqueles que habitam as margens.
História,
é o campo do saber que busca compreender as transformações e continuidades da experiência humana ao longo do tempo, mediando o passado e o presente por meio de narrativas construídas a partir de vestígios, memórias e interpretações. Não é apenas o registro de eventos passados, mas uma prática de construção de significados, onde escolhas de perspectiva, foco e contexto revelam tanto quanto silenciam.
Como uma arte do olhar, desenha paisagens temporais, decidindo o que destacar e o que deixar na sombra. Ranajit Guha nos lembra que, muitas vezes, essas paisagens têm sido dominadas por contornos impostos por elites, deixando as vozes subalternas fora do quadro. Dipesh Chakrabarty desafia a ideia de uma cronologia universal, propondo que ela deve abrir espaço para múltiplos tempos e experiências que coexistem, resistindo à linearidade eurocêntrica.
É um diálogo entre os fragmentos do passado e as demandas do presente, um processo contínuo de reescrita que revela não apenas o que aconteceu, mas como decidimos lembrar, esquecer e narrar o que somos.
Identidade,
é o traço que desenha quem somos em relação a nós mesmos e ao mundo. Não é fixa ou unívoca; é um processo contínuo de construção, moldado por memórias, histórias, encontros e também pelas dinâmicas de poder. É tanto o reconhecimento do que nos define quanto o reflexo do que o outro projeta sobre nós.
Nos Estudos Subalternos, identidade é muitas vezes um campo de disputa. Partha Chatterjee explora como o colonialismo tentou impor identidades homogêneas, apagando singularidades culturais para servir à lógica do poder. Ainda assim, as identidades locais persistem, reinventando-se nas brechas deixadas por esse calçamento colonial. Silvia Rivera Cusicanqui ressalta que ela nunca é uma essência, mas uma coexistência de contradições, como no conceito de ch’ixi, que abraça o múltiplo e o ambíguo.
É uma narrativa em movimento, uma negociação constante entre pertencimento e diferença. É o traço que nos define, mas que nunca está completo, pois carrega sempre as marcas do passado, as tensões do presente e as possibilidades do futuro. É onde resistimos ao que nos impõem e imaginamos quem podemos ser.
Lugar,
é mais do que um espaço físico; é um ponto de encontro entre história, identidade e experiência. É onde a vida acontece, mas também onde relações de poder se materializam, onde memórias se ancoram e onde significados são constantemente disputados e ressignificados.
Nos Estudos Subalternos, é frequentemente visto como cenário de tensões entre local e global, entre centro e margem. Ranajit Guha destaca como o colonialismo transformou lugares em territórios dominados, apagando suas histórias e impondo novos contornos de poder. Silvia Rivera Cusicanqui nos lembra que ele carrega marcas não apenas do passado, mas de uma colonialidade que persiste no presente, moldando subjetividades e formas de ser.
É também resistência. O espaço onde o subalterno reafirma sua existência, onde culturas locais se reinventam e onde memórias marginalizadas são mantidas vivas. Como no desenho, o lugar pode ser definido por contornos claros ou borrados, mas sempre guarda as marcas de quem o habita – traços que contam histórias, mesmo quando tentam apagá-las.
Memória,
é o fio que conecta o presente ao passado, uma construção que não apenas preserva, mas também seleciona, interpreta e, muitas vezes, reinventa. Não é um espelho do que foi, mas um espaço de disputa e criação, onde lembranças são moldadas por relações de poder, afetos e necessidades do agora.
Para Paul Ricoeur, é um "pequeno milagre", um ato que desafia o esquecimento e reconstitui fragmentos do vivido. No entanto, como Ranajit Guha e os Estudos Subalternos apontam, a memória oficial – moldada por estados e elites – frequentemente apaga ou distorce as histórias dos subalternos. É aí que a ela se torna resistência: um esforço de dar contorno às vozes silenciadas, de reivindicar narrativas que foram relegadas ao espaço negativo da história.
É tanto uma ferramenta de poder quanto uma arma contra ele. Não se limita a registrar o passado; o reconstrói, o reimagina, o transforma em terreno de luta. Como o desenho, é um ato de escolher o que destacar, o que sombrear, o que deixar visível – e, nesse processo, ela não só preserva, mas cria novos significados.
Narrativa,
é o ato de tecer significados, organizando eventos, memórias e experiências em uma sequência coerente e compreensível. Não é apenas uma descrição de fatos, mas uma construção que seleciona, interpreta e dá forma ao que é contado, moldando não apenas o que se diz, mas também como e para quem se diz.
Walter Benjamin nos lembra que narrar é partilhar experiências, mas em um mundo marcado pelo colonialismo e pela modernidade, muitas narrativas têm servido para silenciar, excluir ou domesticar vozes que desafiam as estruturas de poder. Gayatri Spivak destaca que, ao representar o outro, as narrativas hegemônicas frequentemente transformam os subalternos em objetos de discurso, negando-lhes a agência de contar suas próprias histórias.
Por outro lado, Partha Chatterjee e Ranajit Guha mostram que elas não são apenas instrumentos de poder, mas também campos de resistência. As histórias "de baixo" – construídas pelos subalternos – desafiam a homogeneidade das versões oficiais, revelando o múltiplo, o contraditório e o inacabado. É tanto uma ferramenta de dominação quanto um meio de reescrever as margens, transformando silêncios em vozes.
Olhar,
mais do que um ato físico de percepção é uma forma de interpretar, julgar e organizar o mundo; está impregnado de cultura, história e poder, moldando o que vemos e como vemos. Não apenas registra, mas também seleciona, enquadra e hierarquiza, transformando a realidade em narrativa.
Desenhar um olhar implica escolhas conscientes ou inconscientes sobre foco, perspectiva e contorno. Silvia Rivera Cusicanqui ensina que o olhar colonial desenha o mundo a partir de um ponto de vista fixo, que distorce tudo o que escapa à sua lógica. Partha Chatterjee nos alerta para como esse olhar eurocêntrico não só descreve, mas também subjuga, apagando as nuances das margens para conformá-las ao centro.
É um ato carregado de poder, mas também de possibilidade. Aprender a descolonizar o olhar, como sugere Gayatri Spivak, é um exercício de reaprender a ver – de treinar para reconhecer as vozes, os gestos e os traços que foram apagados ou relegados ao espaço negativo. É uma ferramenta de resistência e reimaginação.
Outro,
é aquele que está fora de nós, uma figura que serve como espelho e contraste, revelando tanto nossa identidade quanto nossas limitações. É construído no encontro, mas também na separação, frequentemente moldado por dinâmicas de poder que definem quem pertence e quem é excluído, quem é sujeito e quem é objeto.
Nas narrativas coloniais, é uma invenção que desumaniza e hierarquiza, desenhando contornos rígidos entre centro e margem. Silvia Rivera Cusicanqui e Gayatri Spivak nos mostram como o Outro é reduzido a uma ausência ou a um estereótipo, uma figura que existe apenas para reafirmar a supremacia do olhar hegemônico. É o subalterno que não fala, mas é falado; é o diferente que deve ser moldado ou silenciado.
É também resistência; carrega a possibilidade de romper as molduras que tentam aprisioná-lo, afirmando sua existência em seus próprios termos. Desafia o traço que tenta delimitá-lo, insistindo em sua multiplicidade. Obriga a questionar quem somos e como construímos nossas relações, revelando que o encontro é, acima de tudo, um convite à transformação.
Poder,
é a capacidade de moldar o mundo – controlar ações, definir narrativas, traçar os contornos do possível. Se manifesta tanto na força visível quanto nas estruturas invisíveis, sendo exercido por meio de instituições, ideologias e relações interpessoais. É o que estabelece hierarquias, decide quem fala e quem é silenciado, quem pertence e quem é excluído.
Para Ranajit Guha, o poder colonial combinava coerção e tentativa de hegemonia, mas nunca alcançou um controle completo, pois enfrentava resistências que escapavam ao seu desenho. Michel Foucault nos lembra que o poder não é apenas repressão; ele também cria – discursos, identidades, formas de saber. Gayatri Spivak e Silvia Rivera Cusicanqui ampliam essa visão, mostrando como o poder opera de forma sutil, moldando o olhar e a subjetividade, perpetuando a colonialidade muito além do domínio político.
Poder é, assim, uma tensão constante. É o traço que tenta definir as margens, mas também o espaço onde as margens resistem e redesenham seus contornos. Ele cria as condições do mundo, mas nunca o controla completamente, pois é sempre desafiado por aqueles que exclui. É também mal-estar e desconfonforto.
Resistência,
é se opor, persistir e criar diante da imposição de forças que buscam dominar, silenciar ou apagar. É mais do que a simples negação do poder; é um movimento ativo de afirmar a própria existência, de desenhar novos caminhos onde o traço do opressor tenta impor seus contornos.
Nos Estudos Subalternos, é a marca da agência dos subalternos, que, mesmo excluídos das narrativas oficiais, encontram formas de lutar, viver e narrar suas histórias. Ranajit Guha a vê nas ações coletivas e cotidianas dos camponeses, que desafiam o controle colonial. Gayatri Spivak nos lembra que ela também está nos silêncios que recusam a domesticação pela linguagem dominante.
Resistência é criação. É um testemunho da força humana de insistir em existir, mesmo nas margens, mesmo contra todas as tentativas de apagamento.
Silêncio,
é a ausência de som, mas nunca de significado. É tanto o espaço imposto pelo poder para calar vozes quanto o refúgio onde as palavras se reconstroem. Pode ser imposto, como uma estratégia de exclusão, ou escolhido, como um gesto de resistência e introspecção.
Nos Estudos Subalternos, é um dos traços mais marcantes da subalternidade. Gayatri Spivak alerta que o subalterno não está em silêncio porque não tem o que dizer, mas porque as estruturas de poder tornam sua fala inaudível ou ilegítima. É criado pelas narrativas hegemônicas, que abafam histórias, marginalizam memórias e transformam sujeitos em sombras.
Mas também carrega potência; guarda aquilo que resiste a ser moldado, aquilo que se recusa a ser capturado pelo olhar dominante. Como um espaço negativo o silêncio define contornos, permitindo que o que está ausente revele sua presença. É, portanto, ao mesmo tempo um campo de opressão e de possibilidade, desafiando-nos a escutar o que não foi dito e a enxergar o que está fora da moldura.
Subalterno,
in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa:
adjetivo e substantivo masculino
Que ou quem serve ou está sob as ordens de outro ou em sua dependência (ex.: indivíduo subalterno; sou apenas um subalterno e obedeço a ordens). = INFERIOR, SUBORDINADO.
Dependente de outro ou de outrem (ex.: posição subalterna). = SECUNDÁRIO
[Pouco usado] Que se iludiu ou enganou. = ENGANADO, ILUDIDO, LOGRADO
Para Spivak, em seu influente ensaio "Pode o subalterno falar?", o conceito de subalterno vai além da marginalização social ou econômica: ele implica uma posição em que o indivíduo ou grupo é privado até do direito de ser reconhecido como um sujeito autônomo. É uma situação de extrema desvantagem e silenciamento, onde a voz própria é constantemente mediada ou silenciada pela impossibilidade de se articular um discurso fora das estruturas de poder dominantes. Ela argumenta que a representação do subalterno é sempre problemática e que os intelectuais devem ter cuidado para não falar "pelo" subalterno, mas sim criar espaços para que ele possa falar por si mesmo.
Sujeito subalterno (pl.),
como define Spivak em Pode o subalterno falar?, são aqueles grupos e indivíduos que são sistematicamente excluídos e marginalizados pelas estruturas dominantes de poder, como o colonialismo, o patriarcado e as elites locais. Ocupam as posições mais baixas na hierarquia social e não têm acesso a recursos políticos, econômicos ou discursivos para se expressar. Estão submetidos a uma condição de exclusão total, onde a capacidade de fala autônoma é anulada e, se tentam falar, suas vozes são reapropriadas ou reinterpretadas pelos que detêm o poder.
Tempo,
é uma dimensão que atravessa nossa experiência de ser e existir, mas sua compreensão é moldada por cultura, história e poder. Não é apenas um fluxo linear de passado, presente e futuro; é também uma construção narrativa que organiza os acontecimentos e dá sentido ao mundo.
Dipesh Chakrabarty nos desafia a desconstruir a cronologia universal, que coloca o tempo ocidental como norma, relegando outras temporalidades a um suposto atraso. Em seu lugar, propõe a coexistência de múltiplos tempos – entrelaçados, fragmentados, simultâneos –, que refletem as experiências diversas dos sujeitos históricos. Silvia Rivera Cusicanqui reforça essa visão ao mostrar como o tempo colonial não se encerra com o fim político da colonização, mas persiste como uma lógica que estrutura identidades e relações no presente.
É mais do que contagem ou registro; é espaço de disputa e criação. Pode ser um instrumento de dominação, como nas narrativas que hierarquizam o "atraso" e o "progresso", mas também uma forma de resistência, onde memórias, histórias e subjetividades subalternas rompem com a linearidade e reclamam seu lugar no tecido da história.
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